segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O REINO ESTÁ PRÓXIMO!



1º DOMINGO DA QUARESMA (22/02/2015)

1ª Leitura: Gn 9,8-15 – “Eis que estabeleço minha aliança convosco... com todos os seres vivos, animais domésticos e selvagens
Salmo: 24: “Recordai, Senhor meu Deus, Vossa ternura e a Vossa compaixão que são eternas! De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia e sois bondade sem limites, ó Senhor!
2ª Leitura: 1Pd 3,18-22 – “À Arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação. Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo”.
Evangelho: Mc 1,12-15 – “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho”.


Afinal, onde está esse Reino tão desejado a tanto tempo?

Ao que me parece, a questão diz respeito ao que realmente se entende por Reino de Deus. Porquanto, a indagação necessária é: Que reino é esse, onde está o trono do rei, e quando ele efetivamente vai começar a acontecer? Afinal, nesse reino todos nós que supostamente “cremos” em Jesus Cristo deveremos ser nele prestigiados, pois, afinal, nele nós seremos “amigos” do rei.

Ora, a Palavra de Deus é clara ao admitir categoricamente que “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc, 1,12-15). 

O que acontece é que muitas vezes nos enganamos, pois ainda temos uma fé muito ingênua, pra não dizer infantil. Não sei por que cargas d'água, ainda não nos apercebemos que o Reino de Deus já está entre nós. Esse Reino (ou melhor Reinado) de Deus já foi instaurado e está no meio de nós. Desde a ressurreição de Jesus Cristo já podemos experimentar o Reino (Reinado) de Deus. Ele está aqui neste mundo concreto em que vivemos, apesar das adversidades e sofrimentos porque passamos. É preciso amadurecer na fé e entender que o Reino de Deus não está noutro mundo não. Na verdade, o Reino de Deus já está aqui no meio de nós e se perpetua para além da vida. Mas é preciso compreender que ele já existe entre nós, é concreto e verdadeiro. O tempo para sua implantação já há muito se completou. 

Então como podemos entender a frase de que o Reino de Deus está próximo? 

É porque o texto serve de espiritualização para o tempo litúrgico da quaresma, tempo de conversão, para um melhor aproveitamento da experiência da páscoa (que é a ressurreição de Jesus, que acontece no domingo seguinte à semana santa).

O amadurecimento dessa fé se dá na urgente necessidade de conversão, e observar os tempos à luz dessa boa-notícia (Evangelho). E que boa notícia é essa? É a mensagem de Jesus que dá exemplos e apela para uma mudança de pensamento e atitude em relação às coisas da vida, perguntando o que Jesus fez, com quem andou, quais escolhas, como agiu.

A melhor forma de compreender a mensagem de Jesus para nós é nos perguntar, diante de qualquer situação, como Jesus agiria em meu lugar se ele estivesse na mesma situação em que me encontro.

A primeira leitura ilustra que a instauração do Reino de Deus é fruto de uma promessa divina, uma aliança, desde os tempos da Arca de Noé (Gn 9,8-15). Essa mesma Arca que a Carta de Pedro (1Pd  3, 18-22) vai interpretar como sendo a Igreja, cujo ingresso é garantido pelo batismo, fonte de salvação ao que nela se encontram, pois a lembrança e compaixão de Deus são eternas, conforme canta o Salmo 24.

Portanto, é importante ter fé e compreender que o mundo em que vivemos não pertence ao diabo, não pertence a demônio algum. O mundo em que vivemos pertence a Deus, pois aqui está instaurado o seu Reino. Toda e qualquer contrariedade ao Reino de Deus, que é puro amor, deve ser combatido com as armas desse Reino, o amor!


domingo, 15 de fevereiro de 2015

“SE QUERES, PURIFICA-ME!” (Mc 1, 40)


Liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum
(1ª Leitura: Lv 13, 1-2.44-46 / Salmo 31 / 2ª Leitura: 1Cor 10,31-11,1 / Evangelho: Mc 1,40-45)

Nos tempos de Jesus, pela visibilidade do mal na própria pele, a lepra era o óbvio sinal da impureza, cuja cultura desses tempos associava tal fato ao castigo de Deus pelos pecados (individuais e coletivos). Ou seja, o leproso era o “impuro” que trazia no corpo a marca do castigo de Deus.

No livro do Levítico (13, 1-2.44-46) havia até a prescrição dos cuidados que se deveria tomar nos casos em que houvesse a suspeita da doença: levar o paciente à presença do sacerdote, para que, se confirmasse a doença, fosse declarado impuro; andar com vestes rasgadas, cabelos em desordem e barba coberta; e à presença de alguém aquele declarado leproso deveria gritar que era impuro”; e ainda ser afastado da convivência da comunidade, morando fora do acampamento”.

Ora, parece que tais medidas representassem para aquela comunidade ações sanitárias em face da completa ignorância científica acerca daquela pavorosa doença.

Segundo a doutrina religiosa da pureza, as doenças, em geral, eram tidas como sinais de imperfeição o que representava uma dissonância com o projeto de Deus que cria tudo perfeito. Portanto, os estados de doença, impureza, imperfeição e pecado deveriam estar, por decorrência lógica, relacionados entre si. O pecado, portanto, é a imperfeição da alma que se reproduz na imperfeição do corpo.

Mas eis que surge Jesus e, com o olhar do amor, vem mostrar que as coisas não são bem assim.

Afinal, não apenas do que diz o evangelho de hoje, mas em todos os milagres de Jesus a grande lição é justamente que o milagre acontece quando acontece o amor e o perdão. 

A doença religiosa, fruto do desamor e da falta de perdão é aquela que aflige o ser humano a pensar que Deus é aquele que está ali à sua disposição para resolver todos os seus problemas.

É preciso saber que não é todo dia que Jesus anda por aí à disposição de quem passa para resolver o seu problema. Se o problema é de saúde pública (doenças, falta de postos de saúde e médicos, filas em hospitais e prontos socorros, falta de remédios, falta de ética na política, etc.), há que se tomar as providências para que eles sejam solucionados; se o problema é de preconceito deve-se buscar as soluções adequadas para que isso não impeça o crescimento e afirmação das pessoas na sociedade.

O milagre que se almeja acontecer, não é que Jesus apareça e cure o doente, mas que aquele que tem fé em Jesus esteja pronto para agir como Ele ensinou a agir: tendo compaixão, estendendo a mão e querendo efetivamente que o doente se cure, tomando as providências que lhe couber. É preciso estar junto e não se esconder dos problemas, não se esconder das doenças, isolando os doentes como se não existissem.

Talvez o maior pecado, mal da alma que contamina o corpo, não seja tanto o que se apresenta à pele, mas o que está escondido e não se vê. É aquele que impede o homem de fé agir como deve que agir. Agir corretamente significa “tudo fazer para a Glória de Deus (1Cor 10,31). E o que significa essa “Glória de Deus”?

Para entender o que significa “glorificar a Deus” é preciso fazer uma pequena comparação.

Glorificar alguém significa honrar essa pessoa. Existem muitas maneiras de honrar alguém. Uma delas é honrar o que essa pessoa fez ou faz. Por exemplo: pode-se honrar um poeta fazendo boas recomendações de sua poesia; pode-se honrar um arquiteto ou um artista, elogiando e cuidando de suas obras.

Da mesma forma, honrar a Deus significa honrar a sua criação: cuidar da natureza, dos animais e dos seres humanos. Assim, desonra a Deus, ou seja, não glorifica a Deus aquele que destrói a sua criação, não lhe atribui os melhores cuidados.

Não permitir que o milagre aconteça ocorre quando não perdoamos aos outros e, principalmente, quando não perdoamos a nós mesmos. Só o perdão elimina de vez com o pecado e, porque não dizer, com todas as impurezas (espirituais, sociais e corporais). Só que para estarmos aptos a perdoar é necessário que primeiro estejamos aptos a ter compaixão e estender a mão, muitas vezes, primeiramente, para nós mesmos!

Perdoando-nos a nós mesmos e aos outros, quem sabe, possamos dizer como o salmista (Sl 31, 1-2.5.11):

Feliz o homem que foi perdoado
e cuja falta já foi encoberta!
Feliz o homem a quem o Senhor 
não olha mais como sendo culpado,
e em cuja alma não há falsidade!
Eu confessei, afinal, meu pecado,
e minha falta vos fiz conhecer.
Disse: 'Eu irei confessar meu pecado!'
E perdoastes, Senhor, minha falta.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

SOFRIMENTO



Por quê sofremos?

O sofrimento humano é um fato natural e, embora a resposta teológica para o sofrimento seja a condição do pecado em que vive o ser humano, ela de pronto não atende à necessidade pragmática de explicação, uma vez que é por demais complicado entender que Deus criou o ser humano e deixou que ele demandasse por esse caminho de dor e sofrimento. Aliás esse é um dos temas mais antigos da discussão teológica e causa de muitas desistências da fé: o sentido do mal.

Os ateus se perguntam: Se Deus é bom e tudo o que Ele faz é bom, como explicar a existência do mal?

O mal, como o bem, é condição existencial do ser. É atributo natural de quem é criatura, cuja maior expressão é a finitude. Assim, o ser, a criatura diante do tempo, passa e não permanece na mesma condição indefinidamente. Só Deus, por ser quem é, não é suscetível a mudanças; só Deus não tem fim!

Deus é amor, sendo essa a melhor forma que a humanidade encontrou para definir e descrever esse Ser que é, por natureza, indefinível e indescritível.

E Deus, no seu incomensurável, indefinível e indescritível amor, diante do sofrimento humano, sabe que não há palavra que explique a condição humana de vulnerabilidade diante da dor e do sofrimento. É por isso que no Evangelho de hoje (Mc 1, 29-39), que apresenta a cena em que Jesus está diante do sofrimento da sogra de Pedro, Ele não pronuncia uma só palavra diante desse fato. Jesus apenas estende a mão e a ajuda a levantar. Contemplando essa cena, é-nos compreender que a melhor atitude para expressar o amor ao próximo diante da dor e do sofrimento é estender a mão, pois as palavras muitas vezes não conseguem exprimir melhor forma de solidariedade.

O ser humano, tal como Jó (1ª Leitura: Jó 7, 4), na sua condição existencial, jamais poderá levantar-se sozinho, pois que sem entender porque é vulnerável à dor e ao sofrimento, sempre se questionará acerca disso. Será, pois, na consciência de sua própria finitude, pois que suscetível ao tempo, que o homem sentirá a necessidade de rogar a Deus para lembrá-lo de que "seus dias correm mais rápido que a lançadeira do tear...e que a sua vida é apenas um sopro" (Jó 7,6-7).

De acordo com Paulo (2ª Leitura: 1Cor 9,16.23) somente resta ao ser humano uma única alternativa: crer e proclamar a boa notícia (Evangelho) de que Deus que se anuncia também se faz fraco para estar com os fracos e é tudo para ter todos. Por isso é que Deus, em Jesus vem com a mão estendida para se encontrar com o ser humano no seu sofrimento e na sua dor.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

DE ONDE VEM A AUTORIDADE?


O que significa falar com autoridade?

Falar com autoridade significa dizer que a PALAVRA dita corresponde à AÇÃO de quem fala. Ou seja, não é possível que alguém coerente aja de forma diferente em relação ao que diz. Portanto, a autoridade vem da coerência entre o que se diz e o que se faz. Na verdade as pessoas reconhecem a autoridade de uma pessoa quando ela faz o que diz.

Por isso é que o texto do evangelho de hoje traz referência ao texto da 1ª leitura (Dt 18,15-20) que assevera a exortação de Moisés que diz ao povo de Deus: “O Senhor teu Deus fará surgir, da tua nação e do meio de teus irmãos um profeta quem deverás escutar”. Todo profeta, quando verdadeiro, ou seja, quando fala o que Deus manda, tem autoridade, porque é coerente em sua vida com a palavra que profere, pois se assim não proceder “deverá morrer” (Dt 18,20). Isto porque não tem autoridade, não tem “moral”.

Em contrapartida, as palavras ditas por um profeta devem ser ouvidas e os corações dos ouvintes não devem estar fechados à sua palavra (Sl 94,8), pois ele fala em nome de Deus, não devendo haver preocupação alguma neste mundo que possa distrair essa atenção (1Cor 7,32).

O mal existe e não se deve descuidar na luta para que o ele se afaste de cada um de nós. Conforme o Evangelho (Mc 1,21-28), o mal não pode afrontar aquele que tem autoridade, por isso é que Jesus ordena: “cala-te e sai dele” (Mc 1,25). O mal, simbolizado por um “espírito mau” ou “demônio” é qualquer coisa que aniquila a vida livre e plena da pessoa. Ordenar que o “espirito mau” se cale e saia da pessoa significa não permitir que o mal tome conta da vida dela, ou seja, significa ordenar que o mal não fale pela pessoa.

Portanto, ter autoridade e agir com coerência significa que a palavra seja dita pela própria pessoa (que é boa por natureza, pois é criatura de Deus) e não pelo mal que nele habita, pois do contrário a pessoa, pelos seus atos e palavras, torna-se sem “autoridade”, torna-se escrava de algum mal que possua (vício, pecado, egoísmo, ganância, arrogância, prepotência, soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja preguiça, etc.).

E para afastar o mal não há dia de “sábado” que impeça, nem lei alguma que possa restringir esse direito à felicidade que toda pessoa tem.