domingo, 4 de janeiro de 2015

OURO, INCENSO E MIRRA


Dizem que eram três os sábios que vieram do oriente, seguindo uma estrela, na intenção de encontrar o salvador. Seus nomes eram Gaspar, Melchior e Balthasar.

Inadvertidamente, eles chegaram à cidade e se dirigiram ao palácio real, pois queriam conhecer o menino-rei. Não podiam imaginar que o reinado, então inaugurado por este nascimento, não era condizente às pomposas riquezas que adornavam as cortes palaciais da dinastia vigente. 

A riqueza material, simbolizada na forma de ouro, o primeiro presente, não poderia ser contabilizada através do vil metal, pois embora quantificável e finita, tal riqueza, disponível gratuitamente na natureza por vontade de Deus, destinava-se a todos sem distinção, mas cuja distribuição, para ser justa e equitativa, dependeria da inexorável boa vontade não egoísta de cada um.

O ouro representa a riqueza abundantemente entregue à humanidade, cujo menino, nas circunstâncias de seu nascimento, deveria  impregnar de novo significado, qual seja o da partilha amorosa e responsável. Se para o mundo até então o ouro era o lastro do poder dos reis, doravante o reinado do neófito deveria se alicerçar em outras bases.

O incenso, segundo presente, vem significar um outro tipo de riqueza, a riqueza espiritual, também desejável para um Rei, pois que a sua condição implica diretamente numa perfeita personificação da dimensão divina do humano que ininterruptamente trava uma busca sedenta pela sua identidade na transcendência. O incenso no contexto desse novo nascimento implica no fortalecimento da dimensão da busca da verticalidade (homem-Deus) a partir da dimensão vértico-horizontal (Deus-Humano, Humano-Humano, Humano-Deus).

Por fim a mirra, terceiro presente, de gosto amargo e composto de óleo e perfume utilizado no preparo fúnebre, para limpeza do corpo sem vida, cuja alma sempre esperançou pela complacência divina quanto a sua ressurreição.

A construção dos siginficados simbólicos desses três presentes, entregues por representantes de povos tão distantes, mostra que o reconhecimento da esperança salvífica do recém-nascido, adorado na manjedoura, remete à necessária relação que esses três presentes têm entre si. 

O significado da mirra (prefácio de um possível entendimento da morte), subsiste a partir da verdadeira compreensão da relação entre o ouro (riqueza material) e o incenso (a sublimação da riqueza material a partir de sua qualificação espiritual). 

Os presentes OURO, INCENSO e MIRRA mostram que, a partir do nascimento desse menino, a humanidade também participa da natureza divina, na medida em que Deus humanizou o Verbo Divino. 

E não poderia ser diferente, ante ao que aconteceu com aquele adorável menino-Rei nos 33 anos que se seguiram.

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