O tempo de celebração litúrgica obedece a uma
sequência de temas para reflexão que devemos considerar em seu significado. A celebração litúrgica que
começa com o tempo do advento, estabelece quatro domingos para a reflexão sobre
o mistério da encarnação do Senhor. Ao tempo do advento seguem as reflexões do
nascimento de Jesus (Natal), da manifestação do Senhor em Jesus (Epifania) e do
Batismo do Senhor (rito de passagem e mudança de vida).
Após a reflexão desses acontecimentos, eis que surge
o tempo comum, que outra coisa não é senão o tempo em que, a partir da vocação
(chamamento), o ser humano é convidado a seguir o caminho de Jesus. Assim, o
tempo comum começa com a reflexão sobre a nossa vocação, ou seja, o chamamento
que Deus faz a cada um de nós.
A partir das leituras bíblicas de hoje (1ª leitura:
1Sm, 3,3b-10.19; Salmo: Sl 39, 2.4ab7-818b-9.10; 2ª leitura: 1Cor 6,13c-15ª.17-20;
Evangelho: Jo 1.35-42) podemos refletir melhor acerca do significado desse
CHAMAMENTO.
VOCAÇÃO ou CHAMAMENTO é aquela voz interior que nos
instiga a uma atitude, nos compele a um compromisso que parece urgente e inadiável.
É a voz que perturba o sono de Samuel, a ponto de ele pensar que era o seu
mestre quem o chamava. Diante desse chamamento, a atitude a se tomar não pode
ser outra senão aquela que remete a uma resposta imediata de prontidão, para
uma tarefa que deve ser realizada com prazer, conforme prescreve o Salmo 39.
No evangelho de João, que relata a vocação dos
primeiros discípulos, vemos que o chamamento precede a uma indagação de
Jesus dirigida a eles quando se aproximam: “O que estais procurando?” (Jo
1,38). Isso nos faz compreender que a vocação de cada um implica numa
prévia compreensão do que realmente se quer da vida. Quando os discípulos, em resposta à
indagação, perguntam a Jesus onde ele mora, deixam claro para Jesus acerca do que eles estão procurando. Nesse contexto, saber a respeito do lugar onde alguém mora significa saber acerca do que ele faz. Então, a vocação, para esses
discípulos, acontece no momento em que eles atendem ao chamamento de Jesus: “Vinde ver” (Jo
1,39). Vocacionados, foram ver o que ele fazia a partir de onde morava.
Para melhor compreender o significado da vocação nessas
passagens bíblicas temos que fazer uma remissão com o significado teológico da
2ª leitura, extraída da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios, que exorta acerca
da importância do testemunho cristão como sinal de coerência e santidade. São
Paulo constrói uma metáfora acerca da vida cristã de cada um como fazendo parte
de um grande corpo, o Corpo de Cristo. Ou seja, cada corpo (cada cristão) é
parte do Corpo de Cristo. E cada parte desse Corpo, por participação, possui a presença do todo,
pois o Espírito Santo reside ali em Santuário (1Cor 6,19).
Dessa participação de cada cristão ao Corpo de Cristo
resulta a necessidade da coerência de atitudes, que implica no cumprimento,
pronto e imediato, da verdadeira vocação do cristão que é a santidade. Para o
cristão, não entender-se destinado à santidade significa estar vulnerável a uma atitude contra a moral (imoral) da sua vocação. Ou seja, no contexto
vocacional, ser imoral significa não agir em conformidade com o que se procura da
vida. Por óbvio, ser imoral (pecar) significa tomar atitudes contra a própria
vocação, que é a santidade.
Viver a própria vocação é atender o chamamento à santidade que, noutras palavras, é estar disposto, como Samuel e os primeiros discípulos, a cumprir a vontade de Deus.
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